por Fabio Marchiori Machado
A célebre citação que compõe a totalidade do título deste post é de Gerge S. Antonie, cônsul do Haiti no Brasil. Esta frase, e outras mais, foram ditas em “off” diante das câmeras da rede de televisão SBT. O Sr. Gerge não sabia que estava sendo gravado.
Eu havia colocado em meu coração que não escreveria sobre esta tragédia ocorrida no Haiti. Creio que em momentos como este o melhor que nos cabe é orar muito em favor das vítimas e falar pouco. No entanto, a tal frase me incomodou muito.
Até este momento já li várias manifestações contra a atitude do Sr. cônsul, principalmente o que tange a questão religiosa da reportagem (o cônsul acredita que o ocorrido é oriundo do grande vínculo da população haitiana com cultos de origem afro, como a macumba. Você pode ver o vídeo da reportagem completa no final do post). Embora os meios de comunicações tenham enfatizado a questão religiosa das afirmações do Sr. Antonie, não penso que seja este o maior problema.
Honestamente, acredito que todo o ser humano deve ter o seu pensar e o seu falar livre de qualquer repressão ou proibição. Todavia, neste caso o que me aterroriza é ver um cidadão, que ocupa um alto e importante posto profissional, representante de uma nação, que aparentemente desfruta de uma vida confortável, possa mesmo que num sussurrar de pensamento imaginar que uma tragédia desta grandeza, do seu próprio povo, venha trazer-lhe benefícios pessoais. Bem sabemos que não é novidade pessoas usarem para benefício próprio situações adversas, usando abordagens políticas e religiosas. Certamente, o Sr. Gerge Antonie ultrapassou a linha do “humanamente aceitável”.
Infelizmente para a raça humana, a atitude infeliz do Sr. cônsul não é um acontecimento isolado na história. Muitos são os relatos, inclusive na história bíblica.
Nos tempos de Jesus existiam pessoas com a mesma mentalidade do Sr. Antonie. Era a liderança religiosa judaica. Esta liderança era corrupta e totalmente controlada pelo Império Romano. Na verdade, era Roma que indicava nomes para posições chaves no judaísmo, como o caso do Sumo Sacerdote.
Os romanos sabiam que o povo judeu era uma estirpe difícil de lidar. Isto era algo que trazia muita instabilidade para o Império. Mas eles sabiam também que o povo judeu era grandemente influenciado pela sua devoção religiosa. Juntando o útil ao agradável, Roma controlava a região Judéia pela religião.
Mas o que isso tem haver com o episódio do diplomata haitiano? Tudo! Da mesma maneira que o cônsul enxergou tirar proveito da situação de sofrimento do seu povo, mesmo que hipoteticamente, a liderança religiosa judaica oprimia seus irmãos em troca de favores e privilégios concedidos por Roma. Em termos econômicos e sociais, a antiga Judéia de 2.000 anos atrás não apresentava muita diferença do que é o Haiti hoje. Ambos levam consigo as marcas da pobreza e do sofrimento. Sabemos que Jesus combatia grandemente esta atitude dos líderes religiosos. Jesus considerava-os hipócritas com a religião, com Deus e com o povo (Mt 22.18; 23.13-15; 23.23-29; 24.51) .
Sei que esta reportagem do SBT foi editada, e que muito da imagem passada por ela pode não ser fiel a realidade, mas creio ainda que a frase “a desgraça de lá (Haiti) está sendo uma boa para a gente aqui. Fica conhecido…” faz parte das coisas que nunca deveriam ser pensadas, quanto mais chegarem a ser dita. O Sr. Antonie já se arrependeu do deslize. Ele fez um breve pedido de desculpas. Espero que ele vá além disso. Ele deve honrar a posição privilegia da que Deus lhe deu e buscar proporcionar um pouco de alívio aos seus compatriotas.
Deus abençoe.