As portas que Deus não abre

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Milagre. Certamente, este é um dos grandes “objetos” de desejo de boa parcela da cristandade contemporânea. Templos enchem-se com pessoas atrás de milagres. Muitos produtos milagreiros são vendidos diariamente com a promessa de proporcionar algum tipo de prodígio. Músicas gospel estão recheadas de apelos e promessas de ações miraculosas da parte de Deus, como esta que usamos como temática da série.

Antes de qualquer coisa, em tempo, quero afirmar que nada tenho contra milagre, e que como todo bom cristão que procura aprofundar-se no conhecimento bíblico, acredito na ação poderosa e miraculosa de Deus na vida do ser humano. Entretanto, vejo que hoje vivenciamos uma banalização desenfreada da questão. O milagre tomou o lugar da Cruz de Cristo nas pregações. Meu intuito é debatermos esta questão e, juntos, entendermos as bases de tudo isso, não através de experiências místicas, mas sim do estudo criterioso da Palavra de Deus.

Um discurso muito comum no meio evangélico são as “portas” que Deus abre com seus milagres. É a porta de emprego, do namoro, da solução para crise familiar e etc. Realmente, Deus abre estas “portas”, mas a questão conflitante é a visão distorcida que muitos cristãos têm hoje em dia de que Deus vai abrir a porta de qualquer maneira!! Particularmente, eu creio que existam portas que Deus abre e outras que Ele deseja que nós tomemos a atitude de abri-las. Existem “portas” abertas por Deus que já são um verdadeiro milagre, e outras situações que para Deus agir, temos que agir primeiro. Não sei se me fiz entender, por tanto vamos ver dois exemplos bíblicos.

O maior milagre que Deus pode inferir na vida de alguém é o da ressurreição (apesar de ter  muita gente pensando que é “Deus dar” um carro importado!!). Neste sentido quero destacar dois textos. O primeiro é o da ressurreição de Jesus. Jesus ressurgiu dos mortos, como cumprimento das profecias bíblicas. Foi morto e sepultado num túmulo cavado na pedra, de posse de Arimatéia. Tumulo este que foi fechado com o auxílio de uma grande e pesada rocha, como registrado em Mc 15.46. No capítulo seguinte, no Evangelho de Marcos (Mc16), há o relato da ressureição de Jesus. Nos primeiros versículos vemos um grupo de mulheres que se preparava para ir embalsamar o corpo de Jesus. Logo no início também, no versículo 3, surge uma interessante pergunta entre elas: – “Quem nos removerá a pedra do túmulo?”. A resposta vem no verso seguinte, onde podemos constatar que abrir a porta do sepulcro fez parte do milagre da ressurreição de Jesus, e aquelas mulheres puderam testemunhar e fazer parte daquele momento porque o Senhor abriu a porta, literalmente.

Outro milagre de ressurreição na Bíblia, e o segundo que queremos usar para aprendermos aqui, é o da ressurreição de Lázaro, registrado em Jo 11. Este, Lázaro, era irmão de Maria e de Marta. Era detentor de uma grande estima por parte de Jesus. O texto diz que, certa feita,  Lázaro adoece e morre ( Jo 1.1-18). Jesus vai ao encontro dele já com a intenção de operar o milagre de trazer novamente à vida seu amigo Lázaro – Vou para despertá-lo, disse Ele (Jo 11.4; 11). Marta e Maria, por sua vez, lamentaram profundamente que Jesus não estivesse lá para curar seu irmão da enfermidade. Jesus novamente afirma que irá fazer Lázaro ressurgir (Jo 11.23). A sensação que temos lendo o texto é que ninguém, num primeiro momento, entendeu o que Jesus dizia sobre o ressurgir de Lázaro. Jesus estava convicto do milagre de realizaria naquela ocasião. Entretanto, um pequeno, e fundamental, detalhe nos chama a atenção neste relato. Veja o que diz os versos:

” Então, ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias.  Respondeu-lhe Jesus: Não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?  Tiraram, então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse: Pai, graças te dou porque me ouviste.  Aliás, eu sabia que sempre me ouves, mas assim falei por causa da multidão presente, para que creiam que tu me enviaste.  E, tendo dito isto, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!  Saiu aquele que estivera morto, tendo os pés e as mãos ligados com ataduras e o rosto envolto num lenço. Então, lhes ordenou Jesus: Desatai-o e deixai-o ir.” (João 11:39-44)

 

Repare que não fez parte do milagre Jesus “abrir a porta”. Certamente Ele poderia ter feito, mas não o fez. Em todo aquele plano, havia a parte que cabia a Jesus e a parte que cabia aos homens. Eles deveriam tirar a pedra do caminho. Entenda que nossa intenção aqui não é “jogar um balde de água fria”, como muitos dizem que comumente eu faço, mas sim mostrar uma outra perspectiva da ação de Deus.

Muito de nós sofremos com certas dificuldades da vida por não entender esta dinâmica. Temos um pré-conceito de que milagre envolve ficarmos parado e vermos Deus fazer todo o trabalho. Na verdade, irá existir situações onde você terá que abrir a porta para Deus agir. Deus é o Todo Poderoso, mas Lhe apraz agir em conjunto e através de nós (discutiremos mais este assunto mais profundamente no terceiro e último artigo da série).

Sigo para o findar deste texto pedindo ao Senhor que nos dê o devido discernimento para sabermos quais são as “portas” que nós, e somente nós, devemos abrir, e para que Ele mude a nossa atitude para problemas que julgamos ser irresolvíveis por nós.

Que esta palavra seja luz e bálsamo para aqueles de nós, que de alguma maneira, sofrem com “portas que não estão sendo abertas”.

Deus o abençoe.

Fábio Marchiori Machado.

 

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