Um dos assuntos mais controversos, no ambiente cristão, é o referente a pregações. Sei que estou “colocando a minha mão num vespeiro” por abordar este assunto. No entanto, creio que é um momento oportuno para discutir uma questão que vem gerando muitas dúvidas e discussões.
Se você visitar 10 igrejas em um mês, certamente assistirá 10 diferentes tipos de pregações. A coisa parece meio óbvia, mas é este o equivoco sutil que nos preocupa. Sei plenamente, e acredito de todo o coração, que o Espírito de Deus age na palavra do pregador. Creio também que esta ação ocorre de diversas maneiras. O Espírito Santo é o nosso capacitador ministerial. Porém, se acredito que a Bíblia na sua íntegra é a Palavra de Deus, infalível, devo acreditar também que o Espírito Santo não pode ir em confronto ao que ela diz ou mostra como padrão.
Há um bom tempo digo que, infelizmente, os púlpitos de hoje estão abarrotados de palestrantes motivacionais em detrimento de pregadores. Todos se autoproclamam pregadores, mas estão muito longe de ser um. O grande problema está na maneira como as pessoas pensam ser um sermão. Muitos pensam que o sermão serve para “recarregar as baterias” dos membros da igreja. Outros pensam que sermão serve para apresentar soluções práticas para o seu dia-a-dia conturbado. E há também aqueles que metralham seu auditório com dezenas de versículos bíblicos e gritos. Mero engano! Uma pregação bíblica vai muito além disso.
Para entendermos esta questão de pregação bíblica, vamos usar um texto muito conhecido das escrituras – At 2.14-42 (Recomendo que você para de ler o texto e leia este trecho das Escrituras).
Este trecho é usado por muitos professores de pregação como base para um curso inteiro de homilética (para quem não sabe, homilética é a parte da teologia que estuda a pregação). Ele é muito rico e nos traz muitas lições. Vamos nos ater a duas delas.
O primeiro ponto que gostaria de chamar a atenção é que a pregação de Pedro é cristocêntrica – O foco está em Jesus. Pregar biblicamente é pregar a Jesus Cristo, não importando se o texto é do Antigo Testamento ou do Novo Testamento. Charles Spurgeon, um dos maiores pregadores que este mundo pode presenciar, dizia que uma pregação somente satisfaz as exigências das Escrituras se ela abordar ou a pessoa de Jesus, ou Sua obra, ou Seu ensino. Se não existir um destes três pontos, trata-se apenas de uma palestra. Pedro se faz valer de dois textos do AT no seu sermão (Jl 2-28-32 e Sl 16-8-11), e apesar de aparentemente os textos tratarem de questões diferentes, o apóstolo os relaciona com Jesus.
A segunda coisa a se notar é que existe uma diferença entre uma pregação bíblica e discursar usando versículos da Bíblia. Nem sempre uma pregação recheada de versículos garante um sermão bíblico. Lembre-se que a Bíblia mal usada é a mãe de heresias. Então o sermão deve estar alinhado com a Bíblia toda. Um sermão deve expor e explicar a Bíblia. É muito comum termos pregações temáticas hoje em dia. Não sou contra a este tipo de exposição e até já preguei vários sermões temáticos. Entretanto, penso ser este uma maneira um pouco arriscada de pregar e explico por que. Geralmente, uma pessoa quando vai montar seu sermão temático tem seu ponto de partida na idéia, no tema. Só depois vai buscar um texto bíblico para fundamentar o seu tema. Numa boa parte das vezes, o texto bíblico acaba entrando meio “truncado” e daí surgem aqueles desvios de interpretação que ocasionalmente vemos nos púlpitos. Quando isso ocorre, consequentemente o pregador tem que dar um “jeitinho” no texto. Pedro, por sua vez, explica o texto da maneira que ele o é e, principalmente, representa. Você perceberá que não existem acomodações bíblicas. Você ou seu pastor pode (e deve) usar sermões temáticos. Eles são mais contemporizadores, isto é um fato. Porém, o tema deve surgir, único e exclusivamente, do texto bíblico e não vice e verse. Espero ter sido claro, visto que este é um ponto complexo.
A grande importância de pregar biblicamente está no resultado. No verso 37 você poderá notar que Pedro não precisou fazer nenhum tipo de apelo. A própria mensagem incomodou o coração dos incrédulos que estavam lá ouvindo. Ao invés, é o povo que indaga: – “…o que faremos nós, irmãos?”. Pedro, então, termina sua homilia pregando o arrependimento genuíno do pecador convicto e o perdão dos pecados pelo sangue do nosso Senhor Jesus. Na da mais do que 3.000 se convertem.
Gostaria de terminar convidando você para uma reflexão. Nos últimos tempos, quantas vezes você presenciou ou até mesmo pregou um sermão assim? Pense profundamente nisso.
Quando pregamos biblicamente, não existe necessidade de campanhas de conversão, marketing, eventos fantásticos….não, não precisa nada disto, porque a Palavra de Deus é suficientemente forte para destrinchar corações escravos do pecado e para libertar todo o cativo sofredor. Eu oro para que tenhamos um despertar de pregadores que tenham uma única coisa em mente na hora da sua mensagem: – JESUS CRISTO, O SENHOR E SALVADOR!
Deus o abençoe.
Fabio Marchiori Machado.
4 pensamentos em “Como deve ser a pregação bíblica.”
Os dias atuais são marcados pela crise na pregação da Palavra de Deus. Percebemos visivelmente, independente de denominações (ainda sou presbiteriano), que os nossos púlpitos estão se tornando “capengas”.
Evidentemente que para as pessoas que não mantêm um contato ativo com as Sagradas Escrituras, tudo merece um “aleluia” ou um “amém”, sem nenhuma compreensão do que esta se dizendo no púlpito. E esta parcela de crentes é majoritária, prova disso são as igrejas de natureza carismáticas, que estão abarrotadas. Ora, a verdadeira igreja só pode ser achada quando o púlpito prega Cristo, e Cristo crucificado, como diz Paulo, quando a loucura de Deus é manifesta. Vejamos o que diz Chapell a respeito da pregação: “Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de tão amplas conseqüências. Reconhecemos que o nosso coração não é puro o bastante para guiar outros à santidade. Uma honesta avaliação de nossa perícia inevitavelmente nos leva à conclusão de que não temos eloqüência ou sabedoria capazes de lavar as pessoas da morte para a vida.” E isso não é novidade, visto que C.H.Spurgeon já se referia ao assunto afirmando que: “A apatia está por toda a parte. Ninguém se preocupa em verificar se o que está sendo pregado é verdadeiro ou falso. Um sermão é sermão, não importa o assunto; só que, quanto mais curto, melhor”. E o que dizer para nos dias atuais? O professor João Ricardo, no seu artigo “A Pregação Fiel da Palavra: Marca Distintiva de uma Igreja Verdadeira – afirma com sapiência que: “…a Igreja sem pregação assemelha-se a corpo sem alma, ela não tem vida. Ela tem barulho, choro e gritos, mas muitos têm atribuído isso ao Espírito Santo, todavia, não percebem que o Espírito age com e por meio da palavra”.
È por isso que, particularmente, anseio por igreja que exponha seus de forma expositiva, visto que esta bendita pregação é a própria Palavra de Deus, enquanto que nos demais métodos de sermões a baseada na Palavra de Deus. È diferente pregar A Palavra de pregar Na Palavra. Mais uma vez, reportemo-nos ao artigo acima sublinhado, e vejamos o que diz o autor, no que aceito com veemência: “Algumas pessoas dizem que tudo o que vemos na Igreja nos Domingos à noite deve ser caracterizado como pregação; todavia, a autêntica pregação é aquela que expõe o texto, conhecida como pregação expositiva. Ela deve ser uma prática na vida daqueles que sobem ao púlpito; temos visto que, muitos preferem pregar temática ou topicamente. Por quê? Bem, porque é mais fácil pregar em cima de um tema; geralmente os teólogos sistemáticos pregam desta forma; trabalham temas na Igreja no Domingo à noite – não estou dizendo que a pregação não deva Ter um tema – o que estou dizendo é que o texto não pode ser exposto com a pressuposição doutrinária que se deve abordar”.
Que o Espírito Santo de Deus esvazie de si mesmo todos aqueles que se fizerem presentes nos nossos púlpitos. Amém.
Olá Anselmo. O briga po mais esta participação. Como eu disse, não é problema o sermão ter um tema. Em termos didáticos é uma ótima idéia. O que se deve tomar cuidado é para o sermão não virar palestra motivacional.
Deus abençoe.
olá fabio marchiori.
De fato sempre tive muita duvida porque existem tantas denominaçoes se Deus Pai, Jesus Cristo e o Espirito Santo sao um só Deus. A forma como as denominações evangelicas sao contituidas e forma das pregações bem como dos sermões etc.
Porque não é feito explicitamente como está escrito na bíblia, embasado unica e excluvivamente em Jesus e seus ensinamentos?
Esta duvida tem me deixado muito intrigado.
Porque hoje em dia não existe uma igreja fundamentada no que está escrito na bíblia e enfocada somente em Jesus Cristo o Salvador?
Gostaria de receber resposta.
Grato por sua atenção.
Olá Waldomiro. Muito obrigado por sua participação no BereiBlog.
Realmente a sua dúvida é mesma de milhões de cristãos no mundo, inclusive eu. Eu tenho alguns pensamentos a esse respeito, no entanto, aqui seria um espaço reduzido para discutir este tema. Vou tentar dar uma resumida. O que eu penso é que hoje os cristãos estão deixando, bem aos pouquinhos, de ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16). Infelizmente, a maioria daqueles que se dizem evangélicos, estão mais próximos das paixões deste mundo do que do próprio Evangelho de Cristo. Não precisamos estar entregue as paixões para estarmos desligados de Jesus. Somente um pouco já serve para tal (Rm 6.12, Rm 7.5, 2Tm 3.6, Tt 3.3). Quando falo em “paixões”digo questões meramente humanas como ganhar muito dinheiro, ter status, ser influente, ter poder, que são coisas pregadas em muitas igrejas atualmente. Se vc ler a primeira carta de Pedro (1Pe) vc começa a entender por que tais coisas ocorrem.
Como falei no meu artigo, as pregações estão muito longe do que a Bíblia ensina. Creio que cabe a nós fazer com que o foco do sermão volte a ser Jesus, seus ensinamentos, mas principalmente a sua obra, seus sangue, sua morte, o perdão dos pecados, a vida eterna em Cristo, a graça e o amor do Pai na entrega do seu filho e etc. Acho que falta um pouco de atitude nossa, e me incluo neste grupo. Entretanto, fico feliz em ver aqui no BereiaBlog que várias pessoas se incomodam com este falso evangelho que tem sido pregado em nossas igrejas. É sinal de que o verdadeiro evangelho tem chance de prosperar novamente.
Em relação a sua pergunta sobre a igreja, peço que vc leia o meu artigo O que vocês fizeram com a Palavra de Deus?
Espero ter sanado um pouco as suas dúvidas. Deus o abençoe.
Fabio.