Na última aula de EBD que eu ministrei, estávamos tratando das questões voltadas a busca da santificação do crente, quando lemos o seguinte versículo:
Efésios 4:26
26 Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira,
Devo confessar que sou um professor abençoado. Tenho o privilégio de ter uma classe muito participativa, com opiniões de qualidade. Algumas dos pontos levantados pelos presentes sobre este versículo, compõe a base para este artigo.
Este versículo de Efésios faz parte de um contexto maior, onde Paulo trata com a igreja a necessidade de sempre buscarmos a perfeição espiritual em Jesus Cristo. O autor da carta, em particular, apresenta uma afirmação muita interessante do ponto de vista do cristianismo. Paulo diz “irai-vos e não pequeis”. Olhe que interessante, o apóstolo em momento nenhum condena a atitude de ira. Ele diz “irai-vos”!
Não devemos perder de vista que, apesar da carta ser assinada por Paulo, estas são palavras do Senhor. Deus, como ninguém mais, conhece a plenitude dos nossos corações, e sabe que ficar nervoso, indignar-se e outros atos semelhantes à ira faz parte da natureza humana. Porém, Deus não está dando “carta branca” para nos tornarmos “bombas emocionais” ambulantes. O versículo continua e diz “…e não pequeis”. Deus está nos alertando que o nosso grande problema não está no fato de ficarmos nervosos, de nos irritarmos, mas sim no que fazemos com essa ira. A distância entre a ira e o pecado é mínima, como podemos ver em vários momentos do nosso viver diário.
Esta semana foi muito incomum para o Brasil. Aconteceu o julgamento dos Nardonis, como a mídia nacional apelidou o casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, acusados de assassinar Isabela Nardoni, no dia 29/03/2008. Se você, caro leitor, pensa que vou deixar aflorar a minha ira, e falar o quanto o casal é ou não culpado, alerto que você enganou-se plenamente. Os meus olhos e minha indignação estão voltados para o que aconteceu do lado de fora do julgamento.
Muito se falou em todos os canais de notícias deste país sobre as pessoas que ficaram ao lado de fora do fórum de Santana-SP,um grupo de desocupados na minha modesta opinião, que cometeram todo o tipo de irracionalidade possível. Houve quem quisesse linchar o advogado de defesa do casal, o sr. Roberto Podval. Existiram, também, algumas mentes iluminadas que correram atrás do camburão que levava os condenados para a penitenciária de Tremembé, querendo quem sabe fazer justiça com as próprias mãos. Teve fogos de artifício, Hino da Vitória (tema que a rede Globo entoava em todas as vitórias de Ayrton Senna, na Fórmula 1), pastor apanhando por pregar o perdão aos acusados e etc. Brasil a fora outro tipos de barbáries, como sofreram cidadãos honestos, sem nenhuma relação direta com os acusados, a não ser o fato de carregar no seu nome o sobrenome “maldito” da terras brasilis – Nardoni! Há relatos de pessoas que não conseguiram realizar atividades básicas do seu cotidiano, por ter o sobrenome do principal suspeito do crime.
A pergunta que fica é: – Nós não temos o direto de nos irarmos contra os Nardonis? Sim, temos. Isso é ponto pacífico. O que não temos é o direito de transformar essa ira em pecado, segundo a Palavra de Deus. E muitos fizeram isso durante toda esta semana que passou, como relatado acima.
A ira torna-se pecado quando a transformamos em ações como palavras duras, rejeições, intolerância e agressões, sejam físicas, morais ou emocionais. No entanto, acredito que o pior a fazer com a ira é alimentá-la. Muitas das pessoas que quiseram surrar o profissional do Direito, que estava lá somente fazendo seu trabalho, tiveram tal atitude por que pecaram mantendo acessa a sua ira. Não acredito que a maioria que tentou cometer tal ato de loucura fizesse algo semelhante em condições normais do cotidiano. Não acredito mesmo. Acredito sim que a ira nutrida por um país inteiro, em todos os dias do julgamento, fez com que o pecado dominasse por completo o coração dos que pensavam estarem “compadecidos” da situação. O alerta de Paulo é direto neste sentido, quando diz que “não se ponha o sol sobre a vossa ira”, ou seja , que a nossa ira pode até aparecer, mas que ela não dure até o findar do dia. O pôr do sol é o limite da ira.
A lição que apresentamos aqui é de que não devemos sofrer reprimindo qualquer sentimento de ira. Devemos, absolutamente, nos preocupar com o que pode vir depois. Isso depende unicamente de nós.
Para tal tarefa temos um grande exemplo de Jesus. Em Jo 8-1.11, está relatado que alguns fariseus trouxeram à presença Dele uma mulher adúltera, inquirindo o que fazer com ela, já que a Lei de Moisés ordenava o apedrejamento. Aqui surge a pergunta: – O que Jesus disse para eles imediatamente? Enganam-se quem pensa que foi “…Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra”. No primeiro instante Jesus nada disse, apenas inclinou-se para escrever na terra, e só depois de um tempo falou. Chamamos este ato de Jesus de “A Oração do Silencio”. Esperou abrandar todo o furor, e assim fez o que era certo. O silêncio Dele tirou qualquer possibilidade daquela ira ser sustentada. Sigamos o exemplo do nosso Senhor.
“ Irai-vos e não pequeis; consultai no travesseiro o coração e sossegai.” ( Salmo 4:4)
Deus o abençoe
Fabio Marchiori Machado
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P.S.: Participaram indiretamente (sem saber!!rsrs) deste artigo: Irineu Morais, Adriana Carvalho, Adriana Massucci, Joelson Amenara, Renata e Francisco Felisone, Sheyla e Fernando Marques, Sueli Couto, Meire e Antonio Sabino, Bianca Assunção, Clácias Dias e alguns outros irmãos que não tínhamos o nome em nossa relação de presença.
2 pensamentos em “A Ira, os Nardoni e o Pecado.”
Olá, Fábio! Bom ouvir palavras sensatas quando parece que todos em volta estão perturbados.
Concordo com o que escreveste em todos os pontos. Não penso que a ira seja, em si, um pecado. Mas que ela pode ser o estopim de algo pior, com certeza. O exemplo do julgamento dos ‘Nardoni’ não me deixa mentir.
Penso ainda que as pessoas exerceram uma espécie de sadismo. Lançam seus próprios pecados em alguém e depois os castigam por isso. Vejo isto em todos os casos que as pessoas desejam fazer ‘justiça com as próprias mãos’.
Abraços,
Leandro.