Corporativismo(*) Evangélico

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Como já é de costume para nós brasileiros, toda vez que nossa seleção de futebol perde uma Copa do Mundo, começa uma “caça as bruxas” de maneira generalizada. Nesta edição, a primeira delas foi Felipe Melo. Injustiça ou não, não desejo entrar no mérito desta questão. Quero, na realidade, ater-me a uma das “bruxas” levantadas no pós copa, neste caso os episódios envolvendo auxiliar técnico Jorginho. É notório que o ex-jogador e, até então, componente da comissão técnica da seleção é um evangélico fervoroso. Jorginho é membro da Igreja Evangélica Congregacional da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Foi ele um dos grandes divulgadores do movimento ( ou organização, como preferirem) Atletas de Cristo em terras brasileiras.

Logo depois da desclassificação brasileira, Jorginho foi acusado de colaborar com a derrocada da equipe por causa de comportamentos que envolviam a sua fé. A acusação: – indicar pessoas para exercer atividades para CBF, durante a Copa do Mundo, embasando sua decisão no fato dos profissionais serem evangélicos e não nos atributos técnicos que cada cargo demandava. O caso que mais chamou a atenção da mídia foi o do segundo olheiro da seleção. Cabia ao técnico Dunga escolher um dos olheiros, e ele o fez com o ex-goleiro Taffarel. Jorginho tinha a missão de escolher o outro olheiro. Sua escolha foi Marcelo Cabo, que segundo alguns críticos não tem uma capacidade profissional e técnica que se assemelhe a de Taffarel. Marcelo Cabo é membro da mesma igreja que Jorginho.

É corriqueiro no meio evangélico a questão da “preferência” por crentes. Existe base bíblica, isto é um fato. A Palavra de Deus diferencia nossas atitudes com os crentes e os não crentes. Neste sentido o Bíblia normatiza assuntos como o casamento (1Co 7.15; 1Co 7.39), na relação entre os crentes (1Jo1.3, 6-7), relação do crente com outros crentes (2Co 6.14) e etc. No entanto, existem algumas questões que devem ser consideradas neste assunto.

A primeira delas é que o corporativismo evangélico muitas vezes nos leva a adotar atitudes de isolamento. O cristão não foi chamado por Deus para ficar recluso em comunidades eclesiásticas. Muito pelo contrário, somos convocados a interagir e transformar o mundo com a pregação da Palavra. Devemos “ser sal da terra e luz do mundo” (Mt 5.13) e estar em todos os lugares disseminando o Evangelho (Mt 28.18-20; Mc 16.15-18; Lc 24.44-49 ), mas principalmente saber que nem mesmo Jesus tem a intenção que seus discípulos estejam isolados do mundo, e tal é a verdade que na sua oração sacerdotal (Jo 17.1-26) Ele pede ao pai que não nos tire deste mundo, mas que nos proteja de todo o mal (Jo17.15).

O segundo ponto, e classifico como o mais importante, é o senso de justiça que o cristão deva nutrir no seu dia-a-dia. Este discernimento é um dos componentes principais daquilo que entendemos por “testemunho”. Sendo nós imitadores do Senhor (1Co 11.1) e bom perfume de Cristo (2Co 2.15) temos que ter a preocupação em ser justo com os homes como Jesus foi. Entenda, não prego a complacência, mas a ponderação sobre o que é certo e errado, cabível e incabível, justo ou injusto. A Bíblia nos convoca a desenvolver uma justiça genuína ( Mq 6.8; Mt 5.6).

A verdade é que devemos pensar no bem da família da fé (Gl 6.10), entretanto temos uma grande responsabilidade como estandartes do Evangelho. Já vivenciei muitas situações onde pessoas foram preteridas para um determinado serviço, não por sua capacidade profissional, mas em razão da sua fé. Pude observar a reação de alguma destas pessoas e percebi que tal atitude é algo que beira a irracionalidade para o não cristão. Isto é bem fácil de entender. Imagine-se em uma situação onde você busca uma vaga de emprego. Estão concorrendo à vaga uma pessoa e você somente. De repente, você percebe que suas chances são muito boas porque o seu concorrente tem um preparo muito inferior ao seu para o exercício daquela função. Chegando aos finalmentes, vem a pergunta derradeira do entrevistador: – Que time vocês torcem? Você responde que é corintiano e o seu concorrente que é santista. Então, você olha para um pouco acima da cabeça do entrevistador, que é o dono da empresa, e vê uma foto dele, com a camisa do Santos, ao lado de ninguém mais do que Pelé. No dia seguinte fica sabendo que não conquistou a vaga, e chega à conclusão que o seu concorrente foi contratado não porque era um bom profissional, mas simplesmente porque torcia pelo Santos. Loucura, não?  Infelizmente, este é o tipo de testemunho que damos quando praticamos o corperativismo evangélico.

Que nós tenhamos a preocupação em cuidar um dos outros, muito mais que louvável, é o que Deus espera de nós, mas que exista um cuidado ainda maior para que o nosso testemunho não seja manchado, e assim sendo, não envergonharemos o Evangelho.

Deus o abençoe.

Fabio Marchiori Machado

(*) Corporativismo – defesa exclusiva dos próprios interesses profissionais por parte de uma categoria funcional; espírito de corpo ou de grupo – Dicionário Houaiss

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